Yoga é conhecer a si mesmo
Essa afirmação já traz em si um problema: como conhecer realmente algo que está em constante mudança? E esse algo, que fique claro, é você. Queira ou não, só por estar vivo, exposto à vida, você muda. Afinal, você não faz mais as coisas que fazia na adolescência. Assim espero!
E como essas mudanças acontecem? Muitas vezes, por pressões do cotidiano, das coisas que já vivemos, dos nossos medos, ansiedades, angústias. Não raro escolhemos coisas que achávamos muito que queríamos, para um tempo depois descobrirmos que estávamos enganados em nosso desejo ou já não desejamos o que desejávamos. Mudamos.
Como diz o chavão: a impermanência é a única coisa que permanece.
E assim voltamos para a questão do início do texto: como conhecer algo que muda o tempo todo?
Aqui o Yoga apresenta um olhar singular sobre o que chamamos de “eu”.
O que muda em nós são nossos padrões de comportamento, emoções, pensamentos, sensações, mas há algo que não muda: as estruturas sobre as quais essas mudanças se estabelecem. Em outras palavras, eu e você somos indivíduos, seres humanos que desejam, sentem incômodos e medos – mas a forma como esses desejos, incômodos e medos se estabelecem é diferente para cada um de nós.
Yoga é um método que propõe uma forma específica de relacionamento com si mesmo em duas grandes instâncias:
1 – A primeira é sobre como podemos lidar com as coisas em nós que mudam. Se estamos em constante mudança, que possamos assumir as rédeas dessas mudanças dando uma direção à elas e claro, essa direção deve nos levar para um caminho de menos sofrimento. Se os desejos mudam no tempo, que eu possa escolher, entre meus afetos, objetos de desejo que me tragam mais clareza nas minhas relações. Entre meus desejos vou continuar comendo chocolate de vez em quando, mas também vou procurar me vincular com outras atividades que nutram minha mente, meu “espírito”, vou procurar nutrir o desejo por me entender melhor, por entender meu corpo, minhas emoções, entender a forma como me relaciono com o mundo, com aqueles que amo.
2 – A segunda se refere a como podemos lidar com aquilo que não muda em nós – e isso sim pode ser conhecido. Para entender o que não muda, vamos usar o corpo como analogia. Nossos corpos são muito mais parecidos do que diferentes. A maior diferença é certamente a do sexo biológico. Órgãos sexuais diferentes, alguns hormônios diferentes e para por aí. A maior parte do que faz com que nossos corpos sejam diferentes é a cultura.
Podemos pensar sobre a mente da mesma forma. A estrutura da mente é idêntica para todos, como preenchemos essa mente é o que dá a diferença entre elas. Se conseguirmos conhecer a estrutura da nossa própria mente, conseguiremos entender a estrutura das outras mentes.
Esses dois caminhos do yoga vão aos poucos se estabelecendo e com o tempo passam a acontecer ao mesmo tempo. Vamos aprendendo a olhar com mais atenção para nossos hábitos e afetos ao mesmo tempo em que vamos estudando as estruturas da mente. Ao olhar para o que muda, vamos aprendendo a direcionar essa mudança para onde queremos, ao olhar para o que não muda, vamos aprendendo a entender a lógica de funcionamento da mente.
Nesse ponto é importante desfazer uma confusão que talvez esteja presente em você. Yoga não é sinônimo absoluto de posturas físicas. Elas fazem parte do yoga mas certamente não são a maior parte do que é o Yoga. As posturas são a parte do yoga que usamos para estabelecer um melhor relacionamento com o corpo, mas é preciso que fique claro que o corpo é a menor parte do que somos. Temos no yoga outros recursos para nos relacionarmos com todas as outras partes do que somos, como nossas emoções, pensamentos, história, herança cultural, relacionamentos com outras pessoas… Esses recursos tratam de práticas de respiração, concentração, meditação e também, aliás, principalmente, a conversa com o professor que orienta o aluno/paciente em seus conflitos através da filosofia e da psicologia do yoga e o estudo dos textos que trazem esse conhecimento.
Essa caminhada no yoga pode acontecer individualmente e em grupo, cada uma com suas características próprias.
A abordagem de Yoga que seguimos é a da Tradição de Yoga de Krishnamacharya e Desikachar. O professor Jorge Knak, brasileiro de Porto Alegre, teve o privilégio de estudar diretamente com Desikachar e recebeu dele a autorização para ensinar e formar outros professores. Todos os nossos professores são formados pelo professor Jorge Knak.